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ESPORTE

           “Onde o futebol não tem clichê e o humor toma conta. Notícias, estatísticas e tudo sobre futebol você encontra aqui!”. A descrição é da página “Na Redonda”, mas resume a nova tendência de jornalismo esportivo que vem surgindo nas redes sociais. “Doentes Por Futebol”, “Canal Bate Pronto” e “Na Redonda” são algumas das páginas administradas por jovens apaixonados pelo esporte, que procuram trazer uma nova roupagem ao jornalismo esportivo tradicional que, segundo eles, tem deixado a desejar.

           Clichês nas manchetes, superficialidade nas notícias e pautas repetidas são alguns dos elementos substituídos pela combinação de informação e humor. Sem sequer terem terminado a faculdade, muitos desses organizadores já se destacam nas redes sociais. Como exemplo, João Calvelo, de apenas 19 anos, um dos criadores da já citada página “Na Redonda”, que foi ao ar em abril do ano passado e já possui mais de 18 mil seguidores nas redes sociais.

          - Temos um grande sucesso em pouco tempo por que realmente levamos a sério o que fazemos. Desde o começo até hoje, nunca deixamos de postar ou responder nossos seguidores, que são nossa “gasolina”. O nosso diferencial é que somos totalmente originais e fugimos do “politicamente correto”. Fazemos piadas com todos os times, sem pé atrás e sem espaço para “clubismo”.

        Com um estilo semelhante, o “Canal Bate Pronto” é administrado por alunos de jornalismo da PUC-Rio e também mostra que é possível conciliar esporte e humor, sem deixar a informação de lado. Lançado em abril deste ano pelos estudantes Matheus Palmieri, Ricardo Conti e Thiago Alexandre, o canal já conta com mais de 400 seguidores em sua página oficial no Facebook. A ideia do canal surgiu de um antigo programa esportivo de rádio apresentado por eles. Desde então, os finais de semana têm sido dedicados à gravação dos vídeos, que vão ao ar sempre às quintas-feiras. 

 

        - A proposta do Bate-Pronto é ir além do jogo de futebol. Fazemos análises e debates sobre os bastidores do esporte mais amado e conhecido no mundo. Tentamos ser os mais imparciais possível, deixando a discussão para o público. Por isso, podemos afirmar que o que fazemos é jornalismo - completa Ricardo Conti, um dos idealizadores do canal.

         Tradicionalmente o jornalismo esportivo sempre teve maior interesse por parte do público masculino. Mas no “Bate Pronto”, observou-se o inverso. No primeiro mês do canal a grande curiosidade ficou por conta do público majoritário de meninas entre 18 e 25 anos. São elas que trazem mais acesso ao canal. Dessa forma, os integrantes decidiram incluir Gabriella Lopes, que estuda na mesma Universidade e agora faz parte do “time de marmanjos”. A iniciativa acompanha uma tendência crescente nos últimos anos, com a inclusão das mulheres neste campo do jornalismo.

       Concorrendo ao “Prêmio Influenciadores Digitais”, organizado pela revista “Negócios da Comunicação”, na categoria esporte, o site “Doentes por Futebol” foi criado em 2012 por oito membros espalhados pelo Brasil. A página tem o objetivo de ir além da produção tradicional de jornais e programas de TV.  

       Com mais de 560 mil curtidas em sua página no Facebook, e quase 100 mil no Twitter, o grupo enfrenta atualmente o desafio de tornar o produto rentável, capaz de ser a única fonte de renda de cada sócio. Representante do projeto em Recife, o jornalista Pedro Gallindo aposta tanto no sucesso da empresa que trocou a faculdade de Direito, na UFPE, para estudar jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

       

           - Troquei justamente por que sempre tive a noção de que o DPF tinha tudo para ser muito mais que um hobby. O jornalismo é apenas uma parte do nosso trabalho. No site e no blog DPF, criamos conteúdo analítico, opinativo e informativo, monitoramos o mercado europeu e o nacional. Mas nossas mídias sociais servem não só para divulgar esse material que é, sim, jornalismo. Também tentamos atingir um público que não se sente representado nos grandes veículos, de regiões que também são apaixonadas por futebol, mas que não conseguem ver seus clubes na pauta de nenhum canal – disse.

 

           O jornalista rejeita, entretanto, a tese de que há um “segredo” ou uma “fórmula” para se obter sucesso nas redes sociais. Os recursos utilizados pela página são gifs, memes, vídeos de dribles desconcertantes e “carrinhos” chocantes. De acordo com ele, a comunicação horizontal é um diferencial.

           - Somos apenas mais uma das inúmeras mídias que replicam o conteúdo descartável que pipoca na web todos os dias. O que nos diferencia e mantém nosso público interessado é nossa abordagem crítica sobre o futebol e tudo que o cerca, usando um tom bem-humorado e propondo uma comunicação horizontal.

          Tirando o “Canal Bate Pronto”, cujos integrantes têm facilidade de se reunir por estudarem na mesma faculdade, os administradores das páginas “Doentes Por Futebol” e “Na Redonda” possuem grupos no Whatsapp, onde definem os temas dos vídeos, as postagens que serão feitas e debatem sobre novas ideias. Ou seja, algo que pode ser considerado como uma revolução no jornalismo, fugindo das clássicas reuniões de pauta presenciais.

         Considerado o “carro-chefe” do “Na Redonda”, o Twitter da página é administrado por 15 pessoas espalhadas pelo Brasil, que buscam trazer a informação o mais rápido possível. Engraçadas ou informativas, as publicações são discutidas diariamente no grupo de Whatsapp dos organizadores.

        - É difícil conseguir nos reunirmos para conversar pessoalmente, por isso, fazemos por lá mesmo! Muitas vezes alguém posta uma imagem engraçada e discutimos sobre qual legenda podemos botar. Ou então a gente discute a melhor forma de dar uma notícia, sempre buscando a criatividade e o humor. – afirmou Calvelo.

        Segundo o jovem, o modelo de jornalismo atual está ultrapassado, mas em evolução, já que as pessoas buscam algo mais descontraído, sem exageros. Seguindo o mesmo caminho, o administrador do “Doentes Por Futebol” também enxerga dificuldades dos tradicionais meios de comunicação em lidar com temas relacionados não só ao futebol mas também à sociedade, como racismo e machismo. Ademais, o grupo acredita que pode preencher este espaço, diversificando o produto “futebol” em suas análises e reportagens. 

       - Vejo o mercado da comunicação hegemonizado por poucas empresas. Isso estimula uma produção cara e precariza os trabalhadores. O maior problema desse grande jornalismo esportivo ainda é a falta combatividade de uma fatia considerável dos veículos, e dos próprios profissionais. A permissividade em relação ao racismo, ao machismo, à homofobia e ao preconceito regional é quase uma naturalização que é fruto ou da alienação, ou, pior, do conservadorismo, a vontade de deixar tudo como está. Ser um contraponto a esses veículos sempre foi um dos nossos princípios. Não no sentido de nutrir uma rivalidade, mas de tentar produzir um conteúdo que eles não fazem, ou não podem fazer – concluiu Pedro Gallindo. 

CRÍTICA À MÍDIA ESPORTIVA TRADICIONAL IMPULSIONA CRESCIMENTO DE CANAIS ESPORTIVOS NAS REDES SOCIAIS
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