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Uma história por dia

  • Izabela Antunes e Lorena Muniz
  • 20 de jun. de 2016
  • 5 min de leitura

Todo jornalista sonha em publicar uma reportagem exclusiva, dar o “furo de notícia”. É como uma recompensa pela apuração bem feita, a construção da relação com as fontes e o intenso trabalho. Durante a carreira, são poucos os que conseguem. Mas no jornalismo de celebridades, essa é a rotina. Nos últimos anos, o jornal O Dia ganhou destaque com a cobertura de celebridades. Grande parte desse sucesso se deve ao trabalho do jornalista Leo Dias, colunista de fofoca do jornal, que de tanto escrever sobre os famosos, acabou se tornando um deles, e virou referência no assunto.


Apesar de ter sido descoberto como “o dono dos furos” trabalhando para o jornal Extra, desde 2011, Leo constrói um público leitor fiel em sua coluna na versão impressa e no blog que mantém no site do jornal O Dia. Sem modéstia, ele se define como “o fofoqueiro mais famoso do Brasil” e é franco sobre o trabalho que realiza.


– Pode chamar como quiser: fofoca, futrica, futilidade, ou se preferir algo mais chique, jornalismo de celebridade. Acho que a pessoa precisa ser boa naquilo que faz, independentemente do que seja. E eu acho que eu sou um dos melhores – define o colunista.


O jornalista também trabalha como comentarista na rádio FM O Dia e repórter no programa TV Fama, da Rede TV. O conteúdo da coluna física e online de Leo movimenta uma das editorias mais populares do veículo. Nela são expostas matérias e curiosidades sobre a vida de pessoas que estão em alta na mídia: seja no mundo da música, da televisão, do cinema ou do esporte. Para ser noticiado, basta ser famoso. Quanto mais pessoal for o caráter da matéria, mais leitores ela vai atrair.


O jornalismo de celebridades do jornal O Dia fez sucesso na versão impressa por suas manchetes que exaltavam um novo perfil de famosos, as chamadas “subcelebridades”. Sem uma atuação específica no mercado, elas eram representadas por parentes ou cônjuges de figuras públicas, por ex-participantes de reality shows ou pelas “mulheres-frutas”.


No entanto, nem sempre essa categoria do estrelato estampou as páginas do veículo. Durante mais de uma década, até 2010, o jornalista Bruno Astuto fez sua fama como colunista social no Dia. Antes de Leo Dias, Bruno era o "colecionador de furos” do jornal. O jornalista cobria as principais novidades – e segredos – da alta sociedade carioca, além de ser próximo das grandes estrelas da TV brasileira, o que lhe dava acesso direto à vida pessoal das fontes. Hoje em dia, Bruno Astuto é comentarista no programa matinal Mais Você, da Rede Globo, e colunista na revista Vogue Brasil.


No Brasil, as celebridades estão muitas vezes conectadas ao universo televisivo. Como as novelas permanecem com os maiores índices de audiência da TV aberta, a vida das pessoas envolvidas nas produções se torna a motivação principal dos leitores do jornalismo de celebridades. Enquanto algumas publicações, como as revistas Caras, Quem e Contigo, são voltadas para o jornalismo heavy de celebridades – como os profissionais chamam o acompanhamento diário da vida pessoal de artistas –, o jornal O Dia segue uma linha editorial que, em alguns momentos, se mescla com o jornalismo cultural, como a cobertura dos bastidores de uma gravação, a carreira dos artistas e o relacionamento com fãs e colegas de trabalho.



"É isso que mantém um jornalista,

uma boa história todo dia"


No entanto, a busca pelo furo de notícia segue incessante. O jornalista Pedro Moraes, que passou pelas redações dos jornais O Dia, Meia Hora e da revista Quem, reforça que cada equipe trabalha de uma maneira, mas a necessidade de novidades é constante. Atualmente, Pedro trabalha na revista Veja Rio.


– Você sempre tem um furo, e de vez em quando você acerta, mas passa tão rápido que você nem guarda eles. É uma rotina. Todo dia você precisa de uma história e é isso que mantém um jornalista, uma boa história todo dia – conta Pedro.



O preconceito na profissão


“Fazer o que eu faço é muito mais difícil

do que o que os repórteres de polícia fazem”



Apesar da cobertura da vida pessoal de artistas atrair um grande público e fazer parte da história do jornalismo, ainda existe preconceito com essa editoria. E entre os próprios jornalistas. O colunista Leo Dias explica que entende as pessoas que não gostam desse ramo do jornalismo, mas que não admite o preconceito dentro da própria profissão.


– Eu entendo e aceito. O que eu não admito é jornalista ter preconceito quanto a esta especialidade. Fazer o que eu faço é muito mais difícil do que o que os repórteres de polícia fazem. Você chega na delegacia e tem um bando de policiais querendo divulgar o crime e contar vantagem do seu trabalho. Quero ver descobrir uma traição e publicar – desabafa.


Com bom humor, o jornalista ainda contou que não pretendia trabalhar com jornalismo de celebridades, e esperava fazer algo que desse orgulho à sua família.


– Queria fazer algo que meu pai se orgulhasse, tipo "ah, meu filho é médico!". Tenho certeza que meu pai não fala por aí "meu filho é o maior fofoqueiro do Brasil". Mas enfim, foi o que Deus deu pra ele – revela Leo.



Paparazzi versus redes sociais


A indústria do conteúdo de celebridades não para de crescer, mas de uma maneira diferente. No Brasil, os paparazzi já foram muito valorizados. O furo dos fotógrafos era um investimento certo de toda redação. Mas com a popularização das redes sociais, onde os famosos se expõem de graça, esses profissionais perderam espaço no mercado e começaram a serem cortados dos orçamentos de grandes jornais e revistas. Leo Dias conta que sua coluna no jornal O Dia sobrevive apenas com fontes e informações. De acordo com o jornalista, o veículo assina somente uma agência de fotografias, a AG News. Leo ainda ressalta as diferenças entre o Dia e o Extra.


– A coluna que concorre com a minha, a do Extra, tem altíssimo orçamento para fotos. Eu trabalhei lá e gastava muito com isso, uns R$ 10 mil por mês. Mas na minha coluna o que vale é a informação. Aí, meu amor, eu me garanto – compara o colunista.


A espetacularização da vida privada através de plataformas como Instagram, Snapchat e Twitter tornou a busca dos jornalistas pela novidade cada vez mais difícil. O repórter Pedro Moraes acrescenta que a indústria dos paparazzi era valorizada antigamente porque as pessoas não estavam acostumadas com informações tão pessoais. Hoje em dia elas conseguem informações diretamente da fonte: a própria celebridade.


– As revistas estão pobres. Antigamente tinha-se muita coisa, os fotógrafos eram muito bons, passavam horas na frente da casa da pessoa. No entanto, é um trabalho sacrificante, desgastante, e você só faz isso porque pagava-se bem. Hoje em dia não é mais assim – explica Pedro.


Outra mudança na forma de se fazer jornalismo de celebridade é a relação com as fontes. Os repórteres não esperam mais por um encontro com os artistas. Agora, os contatos são feitos all the time através das redes sociais. Jornalista e fonte estão sempre conectados.


– Meu lugar é na rua, na noite, no whatsapp, nas redes sociais. Minhas fontes vêm de lá. Minha assistente vai ao jornal todo dia, diagrama a coluna e me ajuda a apurar. Mas nosso material não está dentro de uma redação – conta Leo Dias.


 
 
 

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Este site foi desenvolvido por alunos do Laboratório de Jornalismo do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, sob a coordenação da professora Itala Maduell, no primeiro semestre de 2016.

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