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Uma foto vale mais que mil palavras

  • Camilla Ribeiro
  • 24 de jun. de 2016
  • 3 min de leitura

Práticas cada vez mais comuns nas empresas de comunicação, o uso de imagens de leitores, no chamado “jornalismo colaborativo”, e a obrigação de profissionais de texto exercerem mais de uma função, incluindo a fotografia, mudaram a realidade do fotojornalismo no Brasil.


Paulo Araújo, fotojornalista premiado que trabalhou no Dia por 29 anos, defende que “deveriam criar mecanismos para limitar o número de imagens de colaboração, para evitar abusos, tantos para fotos, como para filmagens”.


– Acredito realmente que a fotografia jornalística cumpre o seu papel ao atrair e encantar o leitor ou internauta, pois uma boa foto dá uma maior compreensão de um fato, e ajuda na compreensão de uma dada matéria.


Os prêmios que mais gostou de receber foram do UNDPC- ONU, primeiro e segundo lugar. A fotografia não serviu apenas como ilustração, mas como prova documental, que dava mais credibilidade às reportagens.


“Quando surgiu o tema Inocência Perdida, passamos a perseguir as ocorrências que envolviam crianças e jovens que eram apreendidos ao praticarem crimes, de variadas modalidades. Então, esbarrei com o jovem Rafael, ou RHL, com 14 anos, usando um colete à prova de balas, empunhando uma metralhadora M-9, de fibra de carbono, numa das vielas do Morro da Mangueira. RHL era um gerente de uma das bocas-de-fumo mais disputadas do Rio de Janeiro.


RHL, quando me viu empunhando a minha câmera Canon Mark II, na época brincou comigo: 'Tio, o senhor me fotografa com a sua máquina, que te fotografo com a minha’. É lógico que pensei que havia chegado o fim da linha, até que ele colocou um dos olhos na alça do gatilho, simulando a ocular da câmera, e segurou a M-9 como se esta fosse sua máquina fotográfica. Não pensei duas vezes e o imitei, fazendo uma sessão de fotos, que me rendeu o primeiro lugar neste prêmio.”


“O segundo lugar também foi meu, com a foto de um menino, de 12 anos aproximadamente, usando uniforme de escola pública, que carregava drogas, junto aos seus livros e cadernos, para traficar na escola em que estudava na Zona Sul do Rio. O que me chamou a atenção foi que ele estava segurando um livro de Estudos Sociais, e usava um tênis de grife, e estava de costas para mim, voltado para uma das janelas da delegacia. Fiz a foto com muita agilidade, sem ser visto pela equipe de policiais. A imagem é muito simples, mas carregada com inúmeros significados, pois, para que saber ler, um pingo é letra.”


Durante o ano, as fotos que se destacam são separadas por temas e, quando abre um concurso, escolhem-se as fotos candidatas.


Segue-se o processo de impressão em papel fotográfico, com o tamanho estabelecido pelo edital, e a identificação do material, de acordo com as regras do concurso.


Paulo Araújo percebeu que as fotos concorreriam a prêmios pela repercussão e impacto que tiveram. Mas afirma que as premiações não o movem profissionalmente, sendo consequência da dedicação. Depois de passar por vários jornais cariocas, foi no O Dia que Paulo aprendeu e cresceu como profissional.


– Em O Dia conquistei muitos amigos, respeito profissional da equipe que coordenei nestes últimos tempos, apresentei programa na TV O Dia. Cresci muito profissionalmente, e tive oportunidade de fazer muitas matérias importantes, e cobrir grandes eventos de vulto internacional. Posso dizer que a maior parte da minha vida se passou naquela redação.


Suas motivações são fazer jornalismo e se sentir útil à sociedade, contribuir de alguma forma nas mudanças de algumas pessoas. Ainda assim, o fotojornalista levanta o outro lado da profissão:


– Sofremos com a censura interna, nas mídias hegemônicas. Já perdi a conta de quantos trabalhos meus – modéstia à parte – maravilhosos foram preteridos de ocupar sequer uma página interna do jornal, por força do capital, e interesses comerciais, tratados entre a empresa e seus potenciais clientes.


Araújo diz acreditar que os prêmios que ganhou – da ONU e o Esso – trazem reconhecimento profissional, mas que é preciso buscar a melhor foto todos os dias.


– Ter um trabalho premiado é sinônimo de reconhecimento profissional, e traz uma projeção, mas todo profissional tem que buscar matar um leão a cada dia, buscando sempre os melhores ângulos, e procurar o instante decisivo, para decidir dentro do recorte, a melhor imagem. Mas por onde tenho passado, fazendo freelances ou palestrando, os meus prêmios sempre são lembrados pelos colegas e pelo público. E olha que não tenho tantos prêmios assim.


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Este site foi desenvolvido por alunos do Laboratório de Jornalismo do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, sob a coordenação da professora Itala Maduell, no primeiro semestre de 2016.

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