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Da era das cores para a era das capas

  • Bruna Gerolis e Larissa Medeiros
  • 16 de jun. de 2016
  • 4 min de leitura

O jornal O Dia esteve muitas vezes à frente no que diz respeito à produção de capas que sabem equilibrar design + conceito + timing, e obter um resultado fora do convencional. Desde 1992, quando surpreendeu o mercado jornalístico com a histórica “reforma das cores”, o jornal O Dia recebeu diversos prêmios e foi o primeiro jornal popular do país a ganhar prêmios gráficos internacionais..

Foi na edição dominical de 5 de julho de 1992 que o veículo estabeleceu uma nova era para os jornais diários, até então tradicionalmente impressos em preto-e-branco. Impresso com uma profusão de cores jamais vista na imprensa no Brasil, ali se estabeleceu o momento em que os jornais se despertaram para a necessidade de novas linguagens gráficas para enfrentar a competição midiática que aumentava a cada dia. A tiragem daquela edição ultrapassou a marca dos 700 mil exemplares e a partir disso abriu o caminho que foi seguido por outros veículos, como O Globo e Folha de S.Paulo, nas ousadias editoriais. O jornalista e escritor Ivan Yasbeck, um dos responsáveis pela reforma, afirma que o veículo quebrou conceitos e tabus no padrão dos jornais impressos. "Sua influência logo se espalhou e abriu os caminhos para uma corrida em busca de inovações e exigências editoriais no dia-a-dia", lembra Yasbeck, que trabalhou no jornal de 1991 a 1995. O desenvolvimento de novas tecnologias é o principal aliado das transformações e possibilidades gráficas para as capas produzidas pelo jornal. Desde o início da história do jornalismo, as novas máquinas de redigir e de expor as notícias impõem novos comportamentos editoriais e desafiam os profissionais a se adaptarem aos tempos modernos – um desafio que segue conduzindo, a cada edição, a busca pela linguagem correta na exposição das notícias.– Uma dessas linguagens, a dos infográficos, cujo lema é “show, do’nt tell” – ou exiba mais ilustrações com textos quase telegráficos, pode ser citada como o carro-chefe dessa tendência. E foi nas páginas de O Dia, naquele início dos anos 1990, que essa tendência teve início – destaca Yasbeck.

A ousadia se repetiria em 2006, mas sem o mesmo efeito. Com o slogan “Evoluindo para você”, O Dia adotou o formato berliner, próximo ao formato de revista, para tentar atrair mais leitores e fugir da crise que o veículo já enfrentava. André Hippert foi diretor de arte do jornal de 1995 até maio deste ano - foi um dos demitidos no passaralho -, e responsável por liderar o projeto de algumas reformas e considera essa a reforma mais planejada:

– A gente vive numa crise já há algum tempo, apesar de todos os problemas e da rejeição de alguns leitores mais conservadores que preferiam ter um jornal maior. Eu acho que essa é, de todas as reformas que nós fizemos a mais “amarradinha”, a mais pesquisada, a que a gente mais buscou um produto final sem problemas graves. O jornal voltou a ser tradicional e ter a cara do seu leitor.

O conceito de revista demanda maior cuidado visual e permite trabalhar melhor as informações gráficas. Com isso, buscavam mais leveza e originalidade na abordagem de assuntos pesados. Foi o caso das capas referentes às mortesde Chico Anysio e Nelson Mandela, e das duas finalistas do prêmio Esso “Apaga Brasil” e “Basta, chega de violência”, que também ganhou da Sociedade Interamericana de Imprensa o SND, primeiro prêmio internacional de O Dia. Outros títulos finalistas do prêmio Esso foram: “O adeus ao amante das curvas”, sobre a morte do arquiteto Oscar Niemeyer, e “O pesadelo americano”, sobre o maior massacre de crianças da história dos Estados Unidos.

Com formação em comunicação visual, voltada para ilustração, Hippertt afirma que é tradição de O Dia fazer capas com conteúdo mais gráfico e visual do que editorial, e que é um desafio constante manter o equilíbrio e o bom senso:

– Os dois conteúdos devem se integrar. É difícil, é um exercício diário, porque às vezes pode sair gratuito. Numa capa que seja só gráfica ou que esteja mais gráfica que o editorial, é preciso pensar muito. Estando na frente das principais indicações ao Prêmio Esso com primeiras páginas de O Dia, Hippert o reconhecimento e diz que isso é um sintoma do jornal.

– O prêmio na verdade não pode ser um objetivo, mas ele é um sintoma do trabalho que está fazendo. Ao ganhar um concurso importante, sendo reconhecidos pelos nossos pares, pelos profissionais da área. Tanto nos prêmios de jornalismo quanto nos de design.

O editor de arte conta que o processo criativo de uma capa se dá de diversas formas: – Geralmente você traz uma ideia, ou está num brainstorm com várias pessoas e a ideia sai. Ou você sai com um esboço de ideia e começa a trabalhar em cima e o projeto final acaba surgindo.

Assim, para a criação da capa não há um processo específico. Existe apenas para a aprovação da página.

– O processo de aprovação é sempre coletivo, e é o mais difícil. Não só a equipe de arte que aprova, passa por jornalista, passa por todo mundo, às vezes chamamos o contínuo – brinca Hippert.

Apesar dos diversos prêmios e da boa receptividade dessas capas na internet, as mudanças não refletiram no número de vendas da maneira que se esperava.

– Há no Facebook uma quantidade de compartilhamentos e likes muito grande, mas isso não significa que a venda foi melhor por causa disso. Nós tivemos essa experiência com várias capas – diz Hippertt.

Ele opina que o principal desafio para os jornais atualmente é manter o público, mais conservador, e ampliar esse leque, atrair e convencer os jovens a pagar por conteúdo:

– Essa nova geração não está acostumada a pagar por nada, não paga por notícia, não paga por filme, baixam tudo. Um dia vamos encontrar uma maneira de ganhar dinheiro, mas esse é o maior problema que a gente vive hoje em dia, as pessoas não querem gastar dinheiro. No capítulo A era das cores do livro Deu no jornal (Editora PUC-Rio), Yasbeck afirma que a marca visual da passagem do jornalismo de uma era para outra foram as cores. Para ele, dificilmente haverá outra reforma como aquela: – Marcante como foi a introdução das cores sem limitações dificilmente haverá. Mas se algum editor quiser ousar, aqui vai uma opinião: retornar aos anos dourados do jornalismo brasileiro, pontificado pelo bom e velho Jornal do Brasil, e adaptá-lo às maravilhosas máquinas de se fazer jornal hoje em dia, poderia resultar nesse marco.

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Este site foi desenvolvido por alunos do Laboratório de Jornalismo do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, sob a coordenação da professora Itala Maduell, no primeiro semestre de 2016.

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